quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Comunicação: ferramenta para educar e mobilizar

Relato das oficinas realizadas no assentamento Lagoa do Mineiro (Ibaretama – CE)

Realização: Helena Martins (6°J) e Dora Moreira (3°J)


A idéia de realizarmos oficinas de comunicação comunitária em um assentamento do MST surgiu a partir da parceria da Liga Experimental de Comunicação, projeto de extensão do qual fazemos parte, com o MST-CE, em curso desde o início de 2008. Durante diversos encontros, a coordenadora do setor de Comunicação, Juventude e Cultura do MST – CE, Joyce Ramos, nos falou da necessidade de conhecermos e acompanharmos as experiências de rádios comunitárias desenvolvidas em dois assentamentos no interior do estado: o 25 de maio (localizado na cidade de Madalena) e o Lagoa do Mineiro (em Ibaretama). Após alguns desencontros, em uma tarde de sexta-feira, Joyce nos ligou informando que havia a possibilidade de realizarmos as oficinas no assentamento Lagoa do Mineiro já no dia seguinte. Às pressas, finalizamos a proposta de programação que desenvolveríamos. No dia seguinte, às 8h, seguimos para Ibaretama (não sem certa angústia e dúvida). Daria certo? Estávamos capacitadas para ministrar as oficinas? Eles necessitavam daqueles conhecimentos?

Ao chegarmos na cidade, fomos recebidas de forma calorosa. Enquanto almoçávamos, conversamos sobre a rádio, conhecemos um pouco sua história, programação, etc. Em seguida, fomos levadas ao assentamento Lagoa do Mineiro, onde está instalada a rádio homônima. O vento que soprava em nossos rostos foi dissipando a incerteza; a bela paisagem, nos apaixonando. Entretanto, essa era apenas uma prévia do prazer que teríamos ao longo do final de semana que passamos convivendo, trocando conhecimentos e idéias com os militantes do MST. Na verdade, não fosse a correria do fim de semestre, com certeza teríamos passado mais alguns dias em companhia daquelas pessoas tão agradáveis e solícitas, conhecendo o cotidiano do assentamento e as belezas da região. Por fim, voltamos ao fim da tarde de domingo levando saudade e a certeza de que colaboramos, mesmo que timidamente, para com a construção de um instrumento de transformação social.

Cronograma

Sábado (8)

Leitura Crítica da Mídia

14 – 14h15 – Apresentação dos participantes e da proposta de trabalho

14:15 - 15h – O que é comunicação?

Neste primeiro momento, discutimos o que é comunicação, objetivando passar de uma visão tecnicista para compreendermos a comunicação como direito humano. Em seguida, debatemos o sistema brasileiro de comunicação, o por quê da concentração dos veículos nas mãos de poucos e quais interesses políticos perpassam, por exemplo, a outorga das concessões de rádio e TV. Para este momento, utilizamos a cartilha “Comunicação: direito de todos e de todas”, produzida pela Agência de Notícias Esperança (Anote), em julho de 2006. Ao final da oficina, cartilhas foram distribuídas para todos os participantes.

A importância de tal discussão reside no fato de muitas rádios comunitárias serem tidas como “ilegais” e até criminalizadas. Logo no início da conversa, percebemos como aquele assunto dizia-lhes respeito. Apesar do pouco tempo de existência da rádio - à época, funcionava a menos de um mês-, já se difundia na cidade de Itarema o fato da rádio Lagoa do Mineiro FM ser “pirata”, ilegal, etc. Os realizadores estavam temerosos e, após a conversa, sentiram-se mais seguros para continuar produzindo.

15h – 15h 30 – Dinâmica: A importância da coletividade em projetos de comunicação comunitária.

Uma rádio comunitária deve servir aos interesses da comunidade. Para que seja verdadeiramente coletiva, deve basear-se na participação ampla das pessoas na produção e também discussão do veículo.

Para suscitar esse debate, realizamos a seguinte dinâmica: os participantes foram divididos em três grupos. Cada um deles recebeu um papel no qual estava escrita uma frase que deveria ser interpretada pelo grupo através de gestos, mas sem a utilização da voz. As frases foram as seguintes palavras de ordem: “Ocupar, Resistir e Produzir”; “Mulheres conscientes na luta permanente” e “Reforma agrária já”. Apesar de conhecidas por todos e do esforço dos participantes em encená-las da melhor maneira possível, a dificuldade foi grande e apenas chegamos perto de decifrá-las.

15h 30 – 16h – Debate

Objetivos: Mostrar a importância da coletividade para superar dificuldades e fazer-se compreender. Se, no momento anterior, discutimos a dificuldade e a falta de vontade política para democratizar a comunicação, agora falamos da importância da existência e resistência dos veículos comunitários para pluralizar as informações difundidas na sociedade, para dar voz aos diferentes sujeitos e leituras da realidade.

O momento acabou tornando-se também um espaço de auto-diagnóstico da rádio, pois os participantes discutiram o processo de produção dos programas e o envolvimento da comunidade desde a fundação da rádio.

16h – 16h 20 - Lanche

16h 20 – 16h 40- Leitura crítica da mídia

Objetivos: Fazer uma leitura crítica da cobertura midiática em relação aos grupos socialmente oprimidos, os participante realizaram sociodramas baseados nas seguintes frases: “Por que, na grande mídia, o pecado tem cor e a cor é negra?”; “Por que, na grande mídia, o corpo das mulher serve para vender tudo, do chinelo à cerveja?” e “Por que os movimentos sociais são criminalizados pela mídia?”.

16h40 – 17h – Debate

Objetivos: Refletir acerca da cobertura e do agendamento das temáticas sociais para que os preconceitos difundidos pela grande mídia não sejam reproduzidos através da comunicação produzida no assentamento.

17h – 17h30 – Sobre nossa realidade: como a mídia pauta o MST?

1. Análise de reportagens: Todos os participantes receberam uma matéria publicada pela revista Veja (http://veja.abril.com.br/em-dia/mst-303048.shtml) ou pelo jornal Folha de São Paulo. Após a leitura, eles apontaram pontos positivos e negativos das reportagens.

17h30 – 18h – Debate

2. Suscitamos a discussão acerca da representação do MST pela mídia. Cada integrante foi convidado a dizer como percebia, o que achava dessa cobertura. Em seguida, debatemos algumas linhas políticas do setor de comunicação do MST em relação ao contato do movimento com a grande imprensa.

Noite: Debate

A partir da exibição do filme “A Revolução não será televisionada”, discutimos a cobertura da agenda social e influência da mídia na sociedade. Nesse momento, contamos com a participação de outros assentados da região.

Domingo (9)

Oficina de programação para rádios comunitárias

8h – 8h15 – Explicação da proposta de trabalho

8h15 – 8h40 – Discussão de modelo de programação para uma rádio.

Inicialmente, discutimos qual a função de uma rádio. Resgatamos o auto-diagnóstico realizado no dia anterior, que teve como resultado a concepção de que a rádio deve ser um instrumento para educar e mobilizar os ouvintes. Por isso, discutimos formatos de programação radiofônica buscando pensar como os diversos modelos podem nos ajudar a atingir a finalidade de educar e mobilizar.

9h – 11h – Explicação dos diferentes formatos de programas: características, funções e potencialidades de cada formato. Apresentação de modelos e fabricação de roteiros para cada tipo.

Durante a oficina, debatemos os seguintes formatos:

  • Rádio-revista

  • Boletim

  • Entrevista

  • Debate

  • Sociodrama

  • Musical / Disco- Foro

  • Esportivo

11h – 12h - Oficina de texto para rádio

  • 11h- 11h40 – Produção de notícia jornalística: o que é lead e pirâmide invertida. Mostra de exemplos de textos jornalísticos.

  • 11h 40 – 12h - Características do texto para o rádio

Objetivos: identificar qualidades e defeitos de diversos textos, tendo em vista as características do texto radiofônico. Para tanto, escrevemos exemplos de textos radiofônicos na lousa para serem lidos em voz alta. Em seguida, identificamos características, propusemos alterações, etc.

12h – 12h 40 – Produção de notícia radiofônica tendo como base textos de jornal impresso

Cada participante recebeu uma matéria do jornal Brasil de Fato a fim de que, a partir dela, escrevesse uma notícia para o rádio. Dessa forma, podemos exercitar os conhecimentos adquiridos no momento anterior e ainda diferenciarmos, na prática, características do meio impresso e do rádio.

12h 40 -13h – Leitura e análise dos textos

Lemos todos os textos escritos em voz alta. Apontamos qualidades, sugerimos alterações. Vale ressaltar que nos surpreedemos com a qualidade que possuíam. Apesar da dificuldade de escrever apresentada por alguns, em geral os textos mostraram que o conteúdo foi bastante apreendido.

Final: Agradecemos a participação e a atenção de todas aquelas pessoas que se dispuseram a passar o final de semana em nossa companhia. O agradecimento foi gentilmente retribuído por eles. Em seguida, nos surpreendemos mais uma vez: enquanto arrumávamos os materiais para irmos embora, todos já estavam em círculo, conversando sobre as alterações que seriam feitas na programação. Uma mostra da vontade e do interesse em dar continuidade e qualidade ao projeto.


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