quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Oficina de Linguagem Radiofônica no X Encontro Estadual de Jovens do MST


Ministrantes: Anna Cavalcanti e Raphaelle Batista

A oficina de Linguagem Radiofônica aconteceu no dia 22 de julho no Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza. O local abrigou o X Encontro Estadual de Jovens do MST, que contou com cerca de mil integrantes da juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. No segundo dia de evento, Anna e Raphaelle passaram noções básicas de linguagem específica de rádio a 14 jovens, com faixa etária entre 16 e 25 anos. Por opção do grupo, a oficina aconteceu de 14h às 16h45min, sem intervalo.

Apresentação

De início, reunimos os participantes na área externa do ginásio, onde havia sido ministrada outra oficina de rádio no dia anterior. Como não era possível utilizarmos o som nesse espaço, fomos transferidos para a quadra central do Paulo Sarasate. Antes, porém, ainda conseguimos fazer uma dinâmica de apresentação com os jovens, onde pudemos conhecê-los melhor.

O exercício aconteceu da seguinte forma: cada participante recebeu um pedaço de papel onde deveria escrever uma característica própria, positiva ou negativa. As ministrantes também participaram. Após alguns minutos, o rascunho era repassado ao colega da direita, que o abria, falava o nome da pessoa de quem tinha recebido o papel e comentava a qualidade, dizendo o quanto se identificava com o traço apontado. Assim, a começar por Raphaelle, todos falaram de si e puderam conhecer um pouco da personalidade do outro até o ciclo se fechar, com Anna.

A ideia era aproximar os participantes e as ministrantes da oficina por meio da busca pela identificação com as características dos demais. Assim, além de aprender os nomes dos colegas (senão de todos, da maioria), foi possível também gerar empatias, descontrair o ambiente e apresentar pessoas que, em alguns casos, ainda não tinham tido a oportunidade de entrar em contato – afinal, o evento era de abrangência estadual.

Diagnóstico

Logo após a dinâmica, conversamos com os participantes sobre suas experiências com o veículo radiofônico. Se tinham costume de escutar rádio; qual o tipo de programa de que gostavam; quais impressões tinham a respeito dessa mídia; com o que menos se identificavam; se já tinham tido contato direto com um estúdio de rádio; se havia produção própria nos assentamentos em que moravam etc.

Apesar de alguns estudantes serem do curso de Jornalismo da Terra – portanto com mais conhecimento acerca do rádio e de suas peculiaridades –, o grupo era composto também de jovens que nunca haviam tido contato com os bastidores do rádio, além dos que vivenciaram experiências superficiais com o veículo radiofônico, apenas na produção musical, por exemplo.

Esse momento serviu para que fosse observado o nível de intimidade dos que faziam a oficina com o veículo que seria abordado mais adiante.

Leitura e discussão de texto

Em seguida, passamos para a leitura e discussão de trechos do capítulo 5 do livro Produção de Rádio – um manual prático, de Magaly Prado (2006, Elsevier, 98-101), que tratava de temas como vícios de linguagem e dicas para uma comunicação mais eficaz através do rádio. Cada participante recebeu uma cópia do texto para ler no período de dez minutos. Depois, uma discussão sobre o que a autora suscitava foi iniciada.

Além de frisar pontos como os famosos jargões do jornalismo, destacados no texto como vícios que devem ser evitados, as ministrantes também chamaram a atenção dos jovens para a apropriação de algumas normas de manuais de redação de grandes jornais, também apontadas pela autora (sempre com a ressalva de que a linguagem radiofônica diz muito da identidade de um lugar, de um grupo e dos objetivos dos programas realizados e, portanto, deve ser utilizada de forma mais autêntica possível).

Esse momento foi importante por ter possibilitado o aprofundamento da discussão. Os participantes puderam se manifestar, tanto em concordância quanto em oposição às ideias defendidas no texto e explicitadas pelas ministrantes, em um diálogo verdadeiro e proveitoso para todos.

Atividade de apresentação de técnicas para locução

Para introduzirmos as técnicas básicas de locução aos participantes, utilizamos um material, elaborado pela professora e radialista Cida de Souza, que continha diversos pontos importantes para trabalhar a voz de forma adequada em um veículo de comunicação, no caso, o rádio.

Lemos todo o material junto aos participantes discutindo cada um dos tópicos e dando exemplos práticos de como aquelas dicas podem ser utilizadas durante a locução de uma informação. Entre os mais de dez pontos trabalhados neste momento, destacamos principalmente a necessidade de inflexão, ou seja, falar de maneira cadenciada; respirar entre uma palavra e outra; falar de maneira pausada; e não engolir palavras.

Entre os outros tópicos, estavam aspectos mais relacionados ao cuidado com a garganta, como a ingestão de frutas e de água e o prejuízo do cigarro às cordas vocais.

Para entrarmos em contato mais direto com os participantes, fizemos um exercício de respiração com eles, buscando inspirar com profundidade e ir, aos poucos, soltando o ar, trabalhando o pulmão e o fôlego. Esse momento foi importante para que eles percebessem a importância da respiração durante uma locução radiofônica. Com a atividade, ficou claro que por trás de uma boa locução existe muito de trabalho e de técnica.

Atividade de identificação de tipos de linguagem radiofônica

Após analisarmos em conjunto as técnicas, buscamos explicar como os gêneros linguísticos se expressam no meio radiofônico, explicitando as diferenças entre a novela, a revista, a entrevista, o debate, o jornal, entre outros diversos tipos de programas veiculados em rádio.

Partindo da explicação das particularidades de cada linguagem, explicamos como cada programa detinha um tipo específico de locução, para além do próprio gênero. Por exemplo, o fato de alguns serem mais descontraídos que outros ou usarem termos mais formais e menos espontâneos. Para exemplificar, levamos três programas de gêneros e, portanto, locuções diversas para que os participantes da oficina pudessem perceber as diferenças entre cada um deles.

Tendo em vista as dificuldades com a infraestrutura do local, não foi possível conseguirmos o som que havíamos planejado para a execução dos programas, mas, gentilmente, um dos participantes cedeu um microsystem para que pudéssemos dar continuidade às atividades. Assim, apesar do som baixo em meio ao barulho de outras oficinas que ocorriam simultaneamente no espaço, apresentamos trechos de três programas diferentes: uma edição do Rádio Debate, apresentado pelo jornalista Agostinho Gósson e parte da programação da Rádio Universitária FM, o programa Trip FM, transmitido pela Rádio Eldorado Brasil 3000, entrevistando o ator Bruno Mazzeo, e, por último, uma edição do programa Outras Ondas, da Rádio Universitária FM, roteirizado e apresentado pelos alunos do curso de Jornalismo da UFC.

A partir desses três exemplos, pudemos estabelecer diferenças básicas de estilos de locução e de linguagem utilizados em cada um dos programas. No primeiro, percebemos um caráter jornalístico mais presente, preservando a transmissão da informação clara e do debate noticioso envoltos em uma atmosfera mais sóbria e formal. No segundo, os participantes conseguiram perceber a diferença já na forma em que a locução estava sendo conduzida, de maneira mais espontânea, com timbre jovial e descontraído. O terceiro programa levou aos participantes uma inovação em relação ao estilo da linguagem, pois trazia um meio-termo entre os dois apresentados anteriormente e, ainda, contemplava diversos gêneros do rádio, como a crônica, a reportagem e a notícia.

Exercícios de locução e de linguagem

Após mostrarmos os programas, propusemos um exercício de treino para que os participantes da oficina pudessem pôr em prática o que haviam aprendido. Pedimos que todos escrevessem uma pequena notícia de até dez linhas que estivesse adaptada aos padrões radiojornalísticos. Assim, partindo dos conceitos que foram vistos até aquele momento da oficina, iríamos perceber o que foi aproveitado e o que poderia ser melhorado em cada uma das produções.

Demos cerca de vinte minutos para que todos escrevessem suas notícias. A princípio, acreditamos que dez minutos seriam suficientes, mas a maioria não havia terminado no tempo previamente proposto, então decidimos ampliar o tempo.

Depois que todos estavam com suas notícias prontas, pedimos que cada um lesse o que havia escrito conforme o que havia sido aprendido naquela tarde. Alguns, a princípio, não ficaram com a postura adequada durante a locução, momento em que intervimos para que todos pudessem entender que é necessário alguns ajustes em relação à maneira de sentar durante o momento em que se lê a notícia.

Nesse momento houve bastante descontração no grupo pois alguns estavam envergonhados, tímidos para ler o que haviam produzido e, a partir do incentivo dos outros, leram e puderam receber críticas e elogios dos colegas. O momento foi importante para que pudéssemos identificar os erros e acertos de cada um dos participantes e, enfim, reconhecer o que poderia ser melhorando buscando sempre incentivar o aprendizado deles no ofício ensinado.

Avaliação

Depois que cada um leu a notícia preparada e recebeu os conselhos da turma, fechamos o momento e perguntamos o que poderia ter sido melhor na oficina e quais as sugestões que eles poderiam oferecer. Poucos participantes se dispuseram a falar, mas aqueles que falaram disseram que gostaram bastante e que conseguiram obter um bom rendimento ainda que no pouco tempo de duração do encontro.

Acreditamos que a oficina conseguiu transmitir de maneira sucinta muitos aspectos da técnica radiojornalística. Apesar de não termos tido muito tempo e de alguns contratempos com relação à infraestrutura do local, expomos de forma aprofundada os principais conceitos da linguagem radiofônica e conseguimos discutir com os participantes de que forma eles compreendiam os conceitos apresentados em seu pequeno contato prévio com o rádio.


A partir da oficina, pudemos aprender a lidar com contratempos, perceber as diferentes formas de aprendizagem e quais os diversos níveis de cognição de uma turma. Foi um momento de troca entre ministrantes e participantes, onde aprendemos em medida semelhante pois, enquanto explicávamos, percebíamos o quanto sabíamos em relação ao tema exposto e o quanto ainda tínhamos a aprender.