quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Oficina de Linguagem Radiofônica Assentamento do Quieto (Madalena)

Programação:

1º DIA – SÁBADO (Horário: 14 às 18h)

14:00 – Mística

14:15 – Dinâmica de Apresentação

14:45 – Apresentação do Texto: Voz

15:15 – Discussão do Texto

15:45 – Intervalo

16:00 – Dinâmica: Gincana de adivinhação de locuções famosas do rádio cearense

16:20 – Escutar novamente as locuções e tomar nota dos pontos positivos e negativos delas

17:00 – Avaliação: Dividir em grupos para fazer textos de pequenos quadros de um programa (se possível gravar também)

17:40 – Ouvir e avaliar os quadros

18:00 - Encerramento

2º DIA – DOMINGO (Horário: 8 às 12h)

8:00 – Mística

8:15 – Cada um falará do trabalho que realiza na rádio e como a percebem como produtores e ao mesmo tempo ouvintes, apontando as falhas e os pontos positivos.

8:45 – Apresentação do Texto: Vigil (Manual para radialistas apaixonados)

9:15 – Discussão do Texto

9:30 – Intervalo

9:40 – Dinâmica

9:50 – Exemplos de programas (rádio jornal; rádio debate)

11:00 – Roteiro no rádio: como fazer?

11:15: Exercício de produção de roteiros (notícia, reportagem, nota de serviço). Os participantes serão divididos em 2 grupos e cada um ficará com uma monitora.

11:45 – Discutir os roteiros e avaliar a oficina

12:00 – Encerramento.

Introdução

Nos dias 10 e 11 de outubro estivemos na cidade de Madalena, no Sertão Central cearense, para realizarmos a oficina de rádio, vinculada à disciplina de Jornalismo no 3º setor.

A oficina foi realizada com os moradores do assentamento do “Quieto”, onde fica também a rádio comunitária 25 de Maio. A rádio existe há dois anos e está sob administração dos moradores do assentamento.

Com uma programação diária, a rádio pode ser ouvida por cerca de 10 municípios da região, como Quixeramobim e Milhã. Dentre os locutores da rádio encontramos pessoas de todos as idades, desde o Sr. Pepino, com mais de 60 anos, até os jovens Paulo Henrique, Ana Nélia e Viviane, de 15.

A oficina se deu em dois dias. No primeiro, nos reunimos à tarde com os participantes na escola que fica no mesmo assentamento. Na oficina não participaram apenas as pessoas que trabalhavam na rádio, mas também outros moradores do assentamento, principalmente jovens.

Sábado, 10 de outubro de 2009

No primeiro momento, os próprios participantes se encarregaram de fazer a mística. Neste primeiro dia, uma das meninas leu para o grupo um texto motivador, para que aproveitassem bem a oficina.

Para nos conhecermos melhor, logo depois disso, realizamos uma dinâmica de grupo. Levamos algumas imagens de pessoas, situações, objetos e pedimos para que cada participante escolhesse a imagem que mais o agradava ou que não agradava de jeito nenhum. Depois de pegar as imagens, eles deviam se apresentar para o grupo e dizer o motivo da escolha das fotografias. O primeiro encontro contou com a participação de 12 pessoas.

Assim, começamos a conhecer os participantes da oficina. Algumas das apresentações foram significativas para termos uma maior idéia de como era a vida daquelas pessoas e qual era a importância do trabalho na rádio para elas. Além disso, ficamos conhecendo os mais tímidos, os mais comunicativos, os mais engraçados e os mais sérios.

Depois disso, demos início à apresentação de um texto sobre a voz (COTES, Cláudia; FEIJÓ, Débora & KYRILLOS, Leny. Voz e Corpo na TV. Editora Globo). Mais voltado para a televisão, o texto também nos pareceu importante para discutirmos a utilização da voz no rádio. Ele mostra como devemos trabalhar a nossa voz para nos comunicarmos melhor, apresentando estratégias que ajudam a manter uma boa voz, que contribua para a audiência do meio de comunicação em que trabalhamos. No texto são mostrados aspectos concernentes ao ritmo e articulação da voz, gestos e expressão facial, e como estes devem estar em concordância com o espírito da informação, contribuindo para a credibilidade das notícias.

Ao mesmo tempo em que apresentávamos o texto também íamos fazendo pausas para discutirmos as propostas das autoras. Os participantes explicaram como trabalhavam suas vozes na rádio, como era o estilo dos programas e quais as melhores formas de utilizar a voz para chamar mais atenção dos ouvintes.

Daí, fizemos um pequeno intervalo. Na volta, para descontrair um pouco, fizemos uma nova dinâmica. Desta vez, levamos para eles os áudios de alguns locutores famosos do Ceará. Os participantes teriam que adivinhar quem estava falando.

As vozes eram dos seguintes locutores: Paulo Oliveira, Carlos Augusto, Samantha Marques, João Inácio Júnior e Augusto Borges. De todos, somente a voz de João Inácio foi reconhecida.

Depois deste momento, colocamos novamente os áudios para ouvirem, mas agora deveriam prestar atenção nos formatos dos programas. Em seguida perguntamos a opinião dos participantes sobre esses programas e discutimos a proposta de cada um deles, explicando seus pontos positivos e negativos.

Os participantes também contribuíram fazendo comparações entre esses programas e os programas da rádio 25 de Maio, que além de programas focados na questão do Movimento Sem Terra, também veicula programas diversos, como de esportes, de músicas bregas e românticas e tem ainda um espaço para um programa infantil, aos domingos.

Para finalizar o primeiro dia de oficina, propomos aos participantes que fizessem uma reunião para discutir o que poderia ser incorporado aos programas da rádio. Assim, eles se dividiram em dois grupos. O primeiro ficou com os locutores dos programas informativos, como o esporte e o jornal sem-terra. O segundo agrupou os locutores dos programas de entretenimento, como o programa de música brega e o de música romântica.

No final, cada grupo apresentou as sugestões para seus programas e também para os programas dos colegas. As propostas foram discutidas por todos e nós também contribuímos com outras sugestões. A participação da colega Helena, que também estava realizando uma pesquisa no assentamento, também trouxe outras contribuições para os participantes da oficina.

O primeiro grupo, por exemplo, mostrou que poderia aprimorar o programa esportivo trazendo para a rádio pessoas para serem entrevistadas, como dirigentes de clubes da região e jogadores. Já o jornal Sem-Terra poderia receber pessoas para falar sobre o movimento e na semana dedicada a Che Guevara fazer um histórico da vida do guerrilheiro, contando cada um pouco da sua importância para a América Latina.

O segundo grupo, que ficou com o pessoal dos programas mais voltados para a música, sugeriu que os locutores falassem mais sobre as músicas, os cantores, compositores e também sorteasse pequenos brindes com os ouvintes, para aumentar a participação deles.

Domingo, 11 de outubro de 2009

A programação do domingo era trabalhar o “Manual para Radialistas Apaixonados” de José Lopes Vigil, um estudioso de rádio que viaja toda a América Latina fazendo consultorias para rádios populares.

Pontuando as orientações gerais de Vigil, trabalhamos aspectos técnicos da linguagem radiofônica, sempre abrindo espaço para que o grupo relatasse suas experiências à frente da rádio. A intenção era que avaliassem o próprio trabalho e pensassem em novas formas de fazê-lo. Por exemplo, o autor fala de uma linguagem dominante, aquela utilizada para excluir as massas e afastá-las da informação. Perguntamos ao grupo se eles percebiam que a linguagem que utilizavam era acessível a todos os ouvintes, a resposta, de pronto, foi afirmativa. Pegamos então o exemplo do “spot” da rádio: “Ocupando o latifúndio no ar” e questionamos os participantes da oficina se o ouvinte lá de Milhã, que nunca tinha visitado o assentamento e que não conhecesse o MST, entenderia o termo “latifúndio” com a mesma clareza dos assentados.

A sugestão não era que se mudasse o lema da rádio, mas que sempre que possível os radialistas esclarecessem as razões desse “slogan”. Que levassem para o microfone a sua vivência de combate aos latifúndios (da terra e do ar) devidamente explicada para os ouvintes.

Outra razão para discutir esse texto na oficina é a riqueza de experiências do autor transcritas para o papel. Há um relato de uma rádio na Bolívia que usa os sons da natureza para compor os programas dividindo os quadros ou acompanhando o radialista durante sua locução. Essa sugestão veio a calhar para o programa “Manhã do Campo” apresentado por seu Pepino. Depois de defender a idéia de que sons criam imagens para o público, deixamos que ele dissesse o que pensava da idéia. Qual foi nossa surpresa ao ouvir que certa vez levaram um carneiro para o estúdio e diante do microfone apertaram o animal para gravar o balido.

Após o intervalo, apresentamos formatos variados de programas da Rádio Universitária, como o “Jornal da Educação”, “Rádio Livre” e “Sem Fonteiras, Plural pela Paz”. Ouvimos a primeira vez atentando apenas para a locução, ritmo, entonação, aspectos que vimos no primeiro momento da oficina e no dia anterior. Percebemos que o grupo demonstrava grande interesse em ouvir programas diferentes dos que fazem. Depois do exercício de escuta, explicamos as características de alguns formatos radiofônicos como Radiorevista, Radiojornal, Documentário e Radionovela. Escutando novamente os trechos dos programas, pedimos que tentassem classificar cada um deles.

O propósito dessa atividade era que os adolescentes e Seu Pepino percebessem as possibilidades de inovar a rádio, incentivando a criatividade do grupo e, segundo o que foi relatado por eles na avaliação da oficina, trazendo novo ânimo para trabalhar na rádio.

A Rádio 25 de Março representa um elo entre as dezoito comunidades do assentamento e presta o serviço de informar os moradores das atividades do Movimento Sem Terra (MST). Além disso, tem um importante noticiário esportivo de público fidelizado. O jornal do movimento que chega mensalmente ao assentamento e as notícias de esporte de outras rádios são as principais fontes de informação para o grupo montar seus programas.

Percebendo a necessidade de orientação, ajudamos o grupo a escrever notícias seguindo os critérios jornalísticos. Dividimos dois grupos que fariam notícias sobre o assentamento. O grupo se saiu muito bem na elaboração dos textos, um sobre o resultado de jogos do Campeonato Brasileiro, outro anunciando a programação da semana dedicada ao guerrilheiro Che Guevara na qual todo o assentamento se mobiliza para homenageá-lo. A notícia sobre a inauguração da escola foi feita como se estivesse sendo anunciada em abril de 2008 quando o fato realmente aconteceu, trabalhando apuração de custo da obra, o tempo da construção, origem do dinheiro, e dando organizadamente informações sobre hora e local da inauguração.

Uma situação interessante foi quando Seu Pepino, que já havia nos dito que não sabia ler e escrever, fez também uma notícia a seu modo, sua forma de falar mas respondendo fielmente ao “Quem, o que, quando, onde, por que”.

Considerações Finais

Também no último dia de oficina pedimos que os participantes fizessem uma avaliação do nosso trabalho. Tímidos, cada um colocou no papel suas impressões. O Sr. Pepino falou pessoalmente. Podemos sintetizar as impressões dos participantes através das palavras de um deles:

“Ao longo deste trabalho, o processo da oficina foi bastante produtivo. Isso significou uma interação e troca de experiência, para os jovens que estão na fase inicial de programas de rádio. Este é mais um passo para os companheiros e companheiras do MST. Em nome do MST agradecemos a todas vocês que vieram contribuir com os jovens desta comunidade do Quieto”.

Por isso, mais do que formar comunicadores, ou mesmo trocar experiências, a oficina sobre linguagem radiofônica em Madalena serviu para fazer amigos.

Nenhum comentário: