Os 18 anos do Instituto Terramar
A partir de encontros informais de jovens universitários dos cursos de Geografia, Engenharia de Pesca e áreas afins surgia em 1993 o Instituto Terramar. De lá para cá, essa Organização Não Governamental, que não se reconhece como do Terceiro Setor, vem abrindo caminhos para a cidadania, a justiça ambiental e a participação política. O objetivo era criar uma organização que pudesse fortalecer as associações comunitárias, as populações costeiras e fazer assessoria à pesquisa e à pesca artesanal. “Fazemos um debate que envolve ações de formação, produção de conhecimento e até o desenvolvimento de tecnologias de produção para fortalecer as populações do mar”, explica Camila Garcia, assessora de comunicação do Instituto. O trabalho se dá ainda no sentido do fortalecimento da identidade cultural dos Povos do Mar do Ceará.
O Instituto atua na Zona Costeira do Ceará e define sua Comunicação como do campo popular democrático. A ONG não se reconhece como do Terceiro Setor, segundo Camila Garcia, por ter objetivos diferentes da maior parte das Fundações, que também são classificadas como do Terceiro Setor pela legislação brasileira. Muitas Fundações, segundo a assessora, teriam clara a finalidade de desenvolver relações empresariais. “O Terramar e a Fundação Edson Queiroz, por exemplo, são classificadas como do Terceiro Setor, mas atuam de formas distintas, têm acesso a recursos de formas distintas. Esse termo uniformiza, por isso há um não reconhecimento dessa nomenclatura por parte do Terramar e de muitas outras ONGs filiadas à Associação Brasileira de ONGs (ABONG)”, explica.
Outra crítica do Instituto que Camila Garcia cita é o fato de que muitas Fundações se utilizam do discurso da responsabilidade social, uma forma que o Capitalismo teria encontrado para camuflar os males sociais que causa. “Muitas Fundações ainda falam em responsabilidade social. O Terramar não debate isso. A gente sabe que vive num sistema e que temos de entendê-lo, mas nosso projeto político é de transformação da sociedade. A linha da responsabilidade social pensa apenas em formas de compensação, não resolve o problema”, diz.
Núcleo de Comunicação
Ações de formação, produção e difusão de conteúdos, essas são as atividades do Núcleo de Comunicação do Terramar, estrutura responsável pela comunicação institucional e pela assessoria da ONG. O Núcleo é responsável, entre outras coisas, por auxiliar na produção de material gráfico nas comunidades em que o Instituto atua. Quando se faz necessária a divulgação de um evento promovido por alguma comunidade, por exemplo, o setor oferece auxílio. No entanto, as próprias comunidades produzem sua comunicação por meio de jornais murais, uso de blogs, entre outros meios. O Terramar oferta formações para que os grupos cheguem a esse estágio de autonomia. Antes da criação do setor, a ONG já dava formações nesse sentido. A atuação se dá de acordo com as demandas da comunidade que, algumas vezes, precisa saber apenas como ter acesso ao Ministério Público para denunciar algo ou ainda como criar uma Associação de Moradores.
Recursos - Como o Terramar se financia e mantém sua força como instituição
O Instituto tem seus recursos financeiros advindos, fundamentalmente, de investimentos estrangeiros no Ceará. É através das organizações internacionais denominadas agências de cooperação, que o Terramar funciona até hoje. Essas agências de cooperação mundiais ajudam movimentos sociais no Brasil desde a década de 1970, e o Terramar usufruiu dessa situação favorável, inclusive para ser criado.
Essas agências de cooperação internacional são formadas por igrejas ecumênicas e cristãs, que faziam doações para os fundos existentes para apoiar os países em desenvolvimento. As igrejas recebiam muitas doações individuais. Camila Garcia, jornalista e assessora do Terramar, conta-nos que, com o início da crise na Europa, a situação favorável tem mudado um pouco.
Outra situação tem dificultado ainda mais a captação de recursos para ONGs como o Terramar. Segundo a assessora, foi-se construindo em âmbito mundial, principalmente após a eleição do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, a ideia de que o Brasil está em desenvolvimento e de que a pobreza estaria acabando, bem como, que os direitos da população são amplamente garantidos. Devido a isso, essas organizações passaram a encontrar dificuldades para financiar projetos no Brasil.
O Terramar organiza como será sua captação de recursos de três em três anos. Nestes momentos, elabora todos os seus projetos e os apresenta para as agências de cooperação internacional com as quais já trabalham ou outras de que venham se aproximando. Quando o Terramar consegue o apoio dessas organizações, elas financiam geralmente o que a assessora Camila chama de “parte institucional”. É o pagamento de pessoal, o aluguel, a luz e o telefone. E o que não é aprovado, a organização tenta buscar através de editais.
Atualmente, as agências internacionais que financiam o Terramar são a Organização Intereclesiástica para a Cooperação ao Desenvolvimento (Icco), holandesa, a Kerk in Actie (Church in Action), também holandesa, a Evangelischer Entwicklungsdienst (EED), alemã, e a Intervita Onlus, italiana.
O que a Comunicação do Terramar produz
Site oficial: Existe desde 2003. Em 2011 sofreu uma reformulação por conta dos 18 anos do instituto. É possível visualizar o site antigo no link “Memória Institucional”;
Portal do Mar: uma página do Fórum de Defesa da Zona Costeira do Ceará que funciona como portal de notícias relacionadas à zona costeira do estado e também atua como banco de dados, sendo o veículo de maior diálogo com a sociedade;
Rede Tucum: o Terramar é a Secretaria Executiva da Rede Tucum e administra a página;
Algas Cultivando a Sustentabilidade: é uma iniciativa do Instituto Terramar com o objetivo de fortalecer a conservação dos bancos naturais de algas de Flecheiras, proporcionando aos seus moradores espaços de reflexão sobre a potencialidade dos recursos naturais existentes no território da comunidade. Aprovado em seleção pública de 2008, o projeto é patrocinado pela Petrobras, por meio Programa Petrobras Ambiental. Não é pretensão que o site continue, a página existirá enquanto durar o projeto. O site se mostrou o melhor veículo com a juventude, de acordo com Camila Garcia.
Perfil da Rede Tucum no Facebook: A página tem 4.990 amigos e 322 assinantes. O perfil auxilia na divulgação da Rede e de suas ações como oficinas ofertadas, lançamento de exposições e informes sobre as atividades realizadas. A rede Tucum também possui perfil no
Twitter que é utilizado de forma bem mais limitada, somente 87 mensagens foram tuitadas desde a criação da conta (a última foi realizada em 25 de abril de 2012), a página tem 222 seguidores e segue 87 perfis.
Há ainda o perfil no Twitter para o
Fórum da Zona Costeira, que atualmente vem sendo pouco atualizado, foram realizados 593 tweets (sendo o último em 27 de março de 2012), 126 seguidores e está seguindo 103.
Além dos sites, é produzido o “Boletim Marulho” que funciona como material institucional do Terramar, a publicação impressa não tem uma periodicidade definida, pois, já que o Terramar não foca sua produção em materiais institucionais, a produção do Boletim Marulho fica restrita à edições especiais a cada três anos, quando há um rearranjo.
A relação do núcleo de comunicação do Instituto Terramar com os coordenadores da ONG possui um caráter de fiscalização e prestação de contas a respeito das ações desenvolvidas. Levando em conta que o histórico de inserção da atual jornalista responsável pelo núcleo, Camila Gadelha, nessa posição, é possível perceber que o modelo apresenta certa diferenciação em relação a assessorias de imprensa de empresa privada ou órgãos públicos.
Formas de Participação dos membros da Gestão
Ao explicar que iniciou como militante na instituição, onde sugeriu a implantação de um núcleo de comunicação, até, depois tornar-se estagiária e, finalmente, efetivada no cargo, Gadelha firma-se como uma profissional que tem noção dos processos necessários para efetivação do núcleo, uma vez que acompanhou todo o desenvolvimento deste. É importante ressaltar também que a atuação dela como educadora nos projetos do Terramar também oferece um olhar diferenciado em relação ao papel do assessor de imprensa.
“O Núcleo de Comunicação do Instituto Terramar está diretamente ligado ao que chamamos de Coordenação Colegiada da ONG”, explica a assessora. Esse estreitamento entre os dois núcleos faz com que as atividades desenvolvidas por ambos caminhem de forma agregada para conseguir efetivar a abrangência dos projetos assessorados, bem como cultivar valores do núcleo de comunicação já expostos neste trabalho, como o cuidado em não realizar um trabalho de divulgação institucional.
Por: Elias Bruno, Fernando Wisse, Gabriela Alencar, Ingrid Braquehais e Marcos Mendes