Para uma Construção da Comunicação sem Sujeito.
“No próprio sentido etimológico do termo, já aparece a comunicação como o produto de um encontro social. A comunicação designa um processo bem delimitado no tempo, mas ela não se confunde com a convivialidade (...) Portanto, em sua acepção mais fundamental, o termo ‘comunicação’ refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a relação entre consciências”. (MARTINO, Luis C. Teorias da Comunicação. Conceitos, Escolas e Tendência.).
Muito se tem debatido sobre o surgimento e a importância de atores sociais, dando-se destaque ao papel dos movimentos sociais. A organização da sociedade civil tem gerado subsídios para reflexões e principalmente movimentações que solicitam a libertação social.
Vários são as justificativas que nos fazem atribuir à existência do associativismo – às coletividades –, a legitimidade das lutas sociais, dentre eles destacamos: a capacidade que as coletividades teriam de canalizar recursos (materiais e humanos) e implementar estratégias; a motivação que causa uma propulsão à luta e à construção de identidades destes atores sociais; o “estar junto” acaba por motivar sujeitos (atores individuais) a superar suas deficiências e suas carências, colocando-se na cena pública em pé de igualdade.
Alguns instrumentos podem – e devem ser utilizados – nesse processo de construção social. Um deles é a Comunicação.
É senso comum falar sobre COMUNICAÇÃO para lojas, empresas, marcas, produtos e serviços. Essa comunicação é tratada como indispensável – e na verdade é –, afinal de contas, a propaganda é a alma do negócio. Porém quando nos deparamos com as necessidades de Comunicação das já citadas coletividades, ficamos um tanto quanto acanhados e nem sabemos como tratá-la, pois é fato que alguns conceitos e termos precisam ser “reciclados” antes de terem a ousadia de referir-se aos sujeitos sociais: Eis o desafio!
Para MARTINO, supracitado, fundamental para definir comunicação é considerar que o termo remete ao compartilhamento de um mesmo objeto de consciência. Para se fazer comunicar, ou seja, para se fazer entender, a comunicação precisa ter o maior índice possível de semelhança entre codificação e decodificação. Quando falo em português sobre comércio com um marroquino que não tem fluência na língua portuguesa, provavelmente nosso diálogo não acontecerá, pois ele não corresponderá às minhas expectativas de comunicação.
A respeito da comunicação para as coletividades, HABERMAS chama Comunicação sem Sujeito o processo que procura não frisar interesses particulares, pessoais, numa esfera pouco ampla, mas sim, criar um discurso que se constitui da superposição de variados âmbitos interacionais.
“A idéia aqui defendida é a de que os lances discursivos proferidos pelos membros de um movimento social participam da tessitura de uma rede argumentativa que favorece a criação de reivindicações pautadas por princípios gerais, porque o toma lá dá cá da argumentação pode engendrar a formação daquilo que Habermas chama de comunicação sem sujeito.”(MENDONÇA, Ricardo F. Movimentos Sociais e Interação comunicativa: A formação da Comunicação sem sujeito. Contemporânea – Vol. 4 – nº1 p.73-98 Junho 2006)
No intuito de discutir com os acadêmicos de Comunicação Social (tanto os de Jornalismo – a maioria – quanto os de Publicidade) da disciplina de Cobertura da Agenda Social, foi que propusemos a Oficina de Leitura Crítica da Publicidade / Oficina de Publicidade Alternativa (OPA!) com o tema já mencionado, para geramos um debate mediado por material pesquisado previamente a cerca da construção das Identidades Coletivas e de seu espaço / relacionamento nos meios que se dizem de comunicação, para iniciarmos uma compreensão de que comunicação séria deve ser engajada e atenta para promover a democratização dos espaços midiáticos.
Abaixo, segue o cronograma de atividades da oficina que teve duração de 4h e um nº de participantes que variou de 16 a 18 estudantes de Comunicação Social, maior parte deles do 7º semestre, e outra parte, alunos que já estão no mercado, porém cursando algumas disciplinas para completar a carga horária exigida.
1º DIA: 18/11/2008 (terça-feira)
1º momento: 18:00 às 18:10
Apresentação dos componentes da equipe
Explicação da proposta da oficina
2º momento: 18:10 às 18:30
Dinâmica: O que é publicidade e propaganda?
Foram entregues pedaços de papel para que cada pessoa respondesse à seguinte pergunta: PARA VOCÊ, O QUE É PUBLICIDADE E O QUE É PROPAGANDA?
Exposição e discussão das respostas
3º momento: 18:30 às 19:00
Exposição teórica sobre princípios básicos da publicidade.
4º momento: 19:00 às 19:30
Dinâmica de exploração de conteúdo: O grupo será dividido em equipes nas quais serão distribuídas peças publicitárias. Serão 3 peças para cada equipe. Será dado um tempo para as equipes refletirem a respeito das diferenças entres as peças e a que elas se propõem.
5º momento: 19:30 às 20:00
Debate entre as equipes sobre as conclusões tiradas do momento de reflexão.
2º DIA: 20/11/2008 (quinta-dfeira)
1º momento: 18:00 às 18:15
Breve explanação da oficina para quem não esteve na aula anterior.
2º momento: 18:15 às 18:25
Exposição Teórica que precederá a 1ª dinâmica: Construção da Imagem, da Personalidade. Trabalhar o Conceito de Imagem. Perguntar o que cada um entende por imagem. Citar o texto de Platão, Alegoria da Caverna.
3º momento: 18:25 às 18:45
Dinâmica de exploração do conteúdo: Os participantes serão divididos em grupos e cada grupo receberá uma logomarca de um movimento social para fazer a leitura. “O que aquela marca quis transmitir? Como se deu o processo de criação, de programação gráfica? Quais os significados dos elementos que as compõem?”
4º momento: 18:45 às 19:00
Exposição Teórica a cerca do tema da oficina: “O Coletivo quer (((precisa))) comunicar! Para uma construção da Comunicação sem sujeito.”
Aqui discutiremos sobre a conscientização a cerca da publicidade ética (socialmente responsável), que não precise recorrer ao apelo para informar, mas que tem a responsabilidade de ser veículo de EDUCAÇÃO.
5º momento: 19:00 às 20:00
Dinâmica de produção publicitária: todos os participantes discutirão sobre o planejamento de uma campanha PARA EDUCAR, CONSCIENTIZAR a cerca do tema debatido. Traçarão estratégias viáveis – e, principalmente, alternativas – de veiculação, de criação, de produção e, se der tempo, de angariação de fundos para tornar possível uma posterior concretização da campanha dentro da Universidade.
Todas as idéias e sugestões serão anotadas por um de nós para depois formatarmos a campanha educativa.
O foco da campanha será gerar uma conscientização, um senso de responsabilidade nos futuros profissionais de comunicação, que antes de se formarem JORNALISTAS ou PUBLICITÁRIOS, terão compromisso maior com a GESTÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL, que está sob os comunicadores a responsabilidade de tornar real a democratização dos espaços e dos meios de comunicar e nesse sentido, tornar possível a comunicação (tanto jornalística, quanto publicitária) das causas coletivas, das lutas sociais, acompanhando de perto a construção e a manutenção de sua imagem, obedecendo assim, ao princípio básico de liberdade de expressão e de livre utilização da comunicação para educar, formar.
Essa atitude nos dará de lucro, o nascimento – ou mesmo o despertar – de formadores de opinião e, numa visão mais ampla, promoverá o sendo de cidadania e de RESPONSABILIDADE SOCIAL propriamente dita.




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